12/04/2013 17:02

Lívia Duarte, jornalista da FASE – Solidariedade e Educação

(Agrotóxicos = doenças) x (Agroecologia = saúde). Não confunda tudo com símbolos da matemática: no caso do tema do II Seminário Estadual da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida caso, ‘x’ não representa um fator de multiplicação, pelo contrário, expressa a impossibilidade de convivênica entre agrotóxicos e doenças com a agroecologia e a saúde. O evento realizado em Cuiabá reuniu especialistas no assunto e agricultores de todo o estado nos dias 4 e 5 de abril. Além dos debates, foi reservado espaço para realizar um mapeamento de impactos no Mato Grosso.

Saúde

Nacionalmente, saúde é o tema da campanha em 2013. Entre as autoridades públicas convidadas para este evento estava a Secretaria de Saúde do Estado, para falar sobre a nova política de vigilância às populações expostas aos efeitos nefastos do uso de agrotóxicos; e o Ministério Público, sobre a fiscalização em um dos estados recordistas no uso dessas susbtâncias: a média por pessoa de agrotóxicos no Brasil é de 5,2Kg. Mas no Mato Grosso, o valor médio por pessoa pode chegar a 40kg! Em cidades com alta produção de grãos, como Lucas do Rio Verde, até no leite materno já se encontrou contaminação.

Vale lembrar que o Brasil é o maior consumidor e o maior mercado de agrotóxicos no mundo. E por aqui se consomem substâncias há muito proibidas em outros países. Por isso, até o dia 9 de abril a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos reuniu mais de 40 mil assinaturas para um documento a ser entregue a presidenta Dilma Roussef. Nele, a sociedade pede o banimento de todas as substâncias já proibidas em outros países. Entre elas estão princípios ativos como Cihexatina, Metamidofós e Endosulfan. Este último está proibido em 45 países. Todas essas substâncias são consideradas altamente tóxicas e causadoras, segundo estudos científicos, de uma grande quantidade de doenças em seres humanos, como má formação de fetos e problemas reprodutivos, entre outras, além da contaminação ambiental.

Avaliação

Fran Paula, agrônoma da FASE MT e uma das coordenadoras da campanha no Estado, acredita que os dois anos da campanha são vitoriosos em diversos aspectos: “Conseguimos atingir um público amplo, ganhar visibilidade para o assunto e aumentar a participação de diversas áreas da sociedade na campanha, como é o caso de sindicatos, da Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura (Contag) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e de áreas da educação e da saúde. Além disso, ampliamos o debate com o governo”, avaliou, citando como momento importante a realização da Mesa de Controvérsia no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) no ano passado. Fran também lembrou a conquista de uma série de leis municipais e estaduais que impõe limites ao uso de agrotóxicos ou disciplina seus modos de aplicação – como o caso das pulverizações aéreas, por exemplo.

Apesar disso, ela também recorda que há muito o que fazer e houve retrocessos no período. Um deles, a recente eleição de Blairo Maggi (PR-MT) como presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Federal. O deputado já foi considerado o maior produtor individual de soja do mundo – sendo ele mesmo, portanto, causador de enormes impactos ambientais, alguns deles causados pelo intenso uso de agrotóxicos nos cultivos de soja. Outro problema lembrado por Fran Paula foi a exoneração do gerente-geral de toxicologia da ANVISA, Luís Cláudio Meirelles, em novembro do ano passado. O pesquisador trabalhava há 12 anos na agência que regula o uso de agrotóxicos no Brasil e denunciou irregularidades graves na liberação de substâncias. Leticia Rodrigues da Silva, gerente de Normatização e Avaliação, subordinada à gerência de Meirelles, decidiu deixar o cargo em solidariedade ao chefe e por considerar as denúncias feitas por ele como “extremamente graves”. As exonerações também mostram a pressão enfrentada por aqueles que querem regular o uso destes venenos por aqui.

Desafios?

O principal desafio, aponta Fran, “está no fortalecimento produção agroecológica , através da garantia de políticas públicas e incentivos a produção da agricultura familiar camponesa que é responsável por 70% da alimentação da população brasileira.”É anunciar a produção de alimentos saudáveis, que é viva, e segue existindo”

Filmes

A programação do II Seminário Estadual da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela vida incluiu o lançamento de vídeos que fazem parte de um documentário chamado The soy conection (A conexão soja, em livre tradução). O Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD) foi um dos parceiros na produção que tem como objetivo evidenciar as relações entre a produção de soja no Brasil e a indústria holandesa de carne.

Para saber mais:

Assista a reportagem da TV Gazeta sobre o seminário

– Leia os materiais reunidos e produzidos para a Mesa de Controvérsia do Consea.

– Acesse os relatórios da Associação Brasileira de Saúde Coletiva sobre Agrotóxicos [ Parte 1 / Parte 2 ]

– Baixe o livro Agrotóxicos no Brasil – um guia em defesa da vida, de Flávia Londres, editado pela Articulação Nacional de Agroecologia.

– Conheça o site oficial da campanha