Paula Schitine
03/09/2024 14:50

A visita do ministro Ed Miliband ao Pará começou com uma travessia de barco saindo de Belém em direção a Abaetetuba. No percurso, a comitiva formada por sete pessoas da Embaixada do Reino Unido no Brasil, mais a equipe do Fundo Amazônia, da FASE e Fundo Dema, puderam constatar ao longo do rio a atividade predatória com portos gigantescos mudando a paisagem natural. 

Mas, o objetivo da comitiva era justamente o contrário, conhecer de perto e vivenciar experiências exitosas que receberam financiamento do Fundo Amazônia nos últimos quatro anos. O primeiro destino escolhido foi a comunidade quilombola agroextrativista Ramal do Bacuri, uma das beneficiadas do projeto Amazônia Agroecológica, executada pela FASE e Fundo Dema.

O ministro foi recebido pelas líderes da comunidade e por uma roda de carimbó, o ritmo tradicional do Pará. O representante do governo britânico entrou na roda e logo em seguida provou as delícias da culinária local, num café da manhã completo: com direito a macaxeira, bolos, sucos de frutas da região e a famosa castanha do Pará produzida no local.

Em seguida, Marciane Pastana, da Associação Raízes do Bacuri, guiou a comitiva pelos sistemas agroflorestais do território e mostrou a comunidade onde vivem 167 famílias. Eles avistaram belas castanheiras, pequizeiros e açaizeiros e tiveram uma demonstração de como se colhe o famoso fruto do Pará. Ed Miliband quis saber quais foram os benefícios que a comunidade teve ao longo desse tempo e Marciane contou que o território ganhou mais conhecimento sobre sistemas agroflorestais, equipamentos para a casa de farinha  e uma cozinha comunitária. 

O representante do Estado britânico questionou se a comunidade sofre ameaças e ela explicou que sim. “Primeiramente é em questão à terra, pela compra das terras por empresas que estão vindo aqui para essa região, para o Baixo Tocantins, então tem várias empresas se instalando aqui próximo, e a gente sabe que a intenção deles no futuro é expandir. E a terra tem grande valor tanto para esse mercado do grande capital como também tem um valor muito importante para cada um de nós. Então, a gente já se sente um pouquinho ameaçado aqui no nosso território”, responder a liderança.

No caminho, o ministro ainda questionou sobre o acesso à água na comunidade. Marciane explicou que esse bem comum é escasso e está ameaçado.  “A nossa água também teve um período poluída por conta da fazenda que se instalou ali na cabeça do Igarapé que não é no nosso território, mas ele passa aqui por dentro. Então a água a gente sabe que ela não tem limite, né? Por onde ela escorre, por onde a água corre esse veneno vem junto, também contaminando. Então isso também é uma ameaça muito grande para nós aqui no nosso território”, alertou.

A diretora do Fundo Amazônia, Fernanda Garavini, também acompanhou a delegação na visita e disse que a escolha em mostrar uma das comunidades beneficiadas pelo projeto Amazônia Agroecológica é pelo tamanho e grandiosidade do projeto e os resultados visíveis de preservação da floresta e geração de renda. 

“A gente está aqui nessa comunidade vendo na prática que este é um projeto que une tantos atributos, o apoio à comunidade tradicional, mulheres quilombolas, lideranças que não só fazem parte, mas, claramente, são grandes lideranças. Então, é um projeto muito importante, porque ele mostra que não existe a separação entre a floresta em pé e o povo que mantém a floresta em pé. A gente vê que a floresta e as pessoas que vivem na floresta têm mil possibilidades de se manter juntas”, elogiou a diretora do Fundo Amazônia. 

Outra liderança da comunidade, Eli dos Santos falou sobre os benefícios e avanços trazido pelo projeto Amazônia Agroecológica. “Isso está nos reeducando, porque coisas que a gente já tinha deixado de lado hoje a gente está trazendo de volta como cuidar dos nossos quintais produtivos. Isso para nós é motivo de muito aprendizado e ensinar para os nossos filhos, que futuramente possam estar fazendo a mesma coisa que nós estamos fazendo hoje eu me sinto muito orgulhosa”, destaca. 

Marciane Pastana avaliou a presença da comitiva do Ministro e do Fundo Amazônia ao quilombo. “Eu me senti honrada em receber essa visita, eu acho muito importante porque significa que eles têm um olhar voltado para nós e podem ver na prática o trabalho que a gente faz aqui, os nossos espaços, a nossa culinária, o nosso modo de vida, como a gente trabalha”, orgulha-se.  

A equipe da FASE Amazônica também acompanhou a visita e explicou detalhadamente o trabalho dos educadores e educadoras da organização em quatro anos. “Nada melhor do que botar o pé no chão, comer o peixe daqui, beber a água daqui, conversar com as pessoas daqui. E só vindo aqui, realmente mergulhando em algum território amazônico que podem dizer que se conhece minimamente a Amazônia”, pondera a coordenadora da FASE Amazônia, Sara Pereira. “Então, é fundamental que eles possam entender não só a complexidade do que é a Amazônia, que é muito mais que floresta, é muito mais que um bioma rico em biodiversidade, são vários territórios também diversos em populações, em formas organizativas, produtivas e ouvir das próprias comunidades, das próprias pessoas que vivem ancestralmente aqui, que reproduzem esses modos de vida de geração em geração, é de uma importância imensurável. Então, para nós é de uma grande felicidade poder demonstrar aqui no território quilombola”, completa a coordenadora.

*Comunicadora da FASE