03/05/2019 15:31
Élida Galvão¹
Em meio a mesas de diálogo, oficinas, rodas de conversa, puxirum² de práticas agroecológicas, feira, agricultores familiares, agroextrativistas, indígenas e quilombolas trocaram conhecimentos sobre agroecologia durante seminário realizado em Santarém, no Pará (PA). Cerca de 100 pessoas estiverem presentes e assumiram o compromisso de compartilhar em suas comunidades as informações que permeiam a segurança alimentar e nutricional, respeito aos modos de vida, diversidade cultural, o protagonismo de povos e comunidades tradicionais, feminismo, democratização da comunicação e direito ao bem viver.
Realizado no período de 22 a 25 de abril³, no Centro de Formação Emaús, o Seminário contou ainda com a participação de Marília Emília Pacheco e Letícia Tura, ambas da FASE e da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), e de Romier da Paixão, da Sociedade Brasileira de Agroecologia (ABA).
Resgatando brevemente a relação do ser humano com a natureza, Maria Emília falou sobre rituais históricos que se fizeram importantes às práticas da agricultura. “A agroecologia, em seu ressurgimento, vem nos dizer que temos que entender que há uma prática e uma eficiência que segue outra lógica [de prática camponesa], ligada à diversidade, na relação com a natureza em seu conjunto (…) e intimamente ligada com os sistemas alimentares”, ressaltou.
De acordo com Letícia Tura, para o movimento agroecológico, a agroecologia se configura em um projeto político de sociedade do bem viver, de garantia dos bens comuns. “Agricultores familiares, povos indígenas, populações quilombolas e agroextrativistas têm uma contribuição essencial para a sociedade. São populações que contribuem para a economia, para a cultura e para a preservação do meio ambiente”, disse. Letícia também falou sobre o fortalecimento do movimento agroecológico por meio da ANA. “Não estamos sozinhos nesta luta. A ANA busca articular esses grupos que estão espalhados pelo território na produção da sociedade do bem viver, através das práticas agroecológicas, da segurança alimentar, da saúde coletiva e da economia solidária”, complementou.
Para Romier, a agroecologia é uma ciência que reconhece nas práticas históricas de agricultores e agricultoras uma forma fundamental de pensar um processo político. “A agricultura orgânica, em função de uma lógica de mercado, é um tipo de agricultura que mais cresce no mundo, mas a gente não pode dizer que isso é agroecologia porque não se faz agroecologia sem avançar na relação de gênero mais igualitária, sem avançar na distribuição da terra e da reforma agrária que a gente precisa fazer”, explicou.
Iniciativas agroecológicas
Relatando suas práticas agroecológicas, representantes de diversas iniciativas tornaram visíveis ao público as contribuições das ações coletivas apoiadas pelo Fundo Dema e seus múltiplos benefícios à sociedade.
Ao falar sobre as ações de mulheres da região do Baixo Amazonas, Sileuza Nascimento destacou a importância dada pelo Fundo ao protagonismo das mulheres. “Antes as mulheres eram muito dispersas e depois que formamos a associação de mulheres, passamos a nos unir, trocando experiências umas com as outras e começamos a aumentar nossa participação nas feiras agroecológicas”, disse a integrante da Associação de Mulheres Agricultoras Rurais de Mojuí dos Campos e do Fundo Luzia Dorothy do Espírito Santo.
Chamada Pública Amazônia Agroecológica
Lançada em dia 15 de março pela parceria entre o Fundo Dema e o Fundo Amazônia, a Chamada Publica Amazônia Agroecológica foi mais uma vez divulgada durante o encontro. O Fundo Dema prevê o recebimento de pelo menos 60 propostas novas e de consolidação até o dia 31 de maio, quando se encerra o prazo para o envio de projetos.
Matheus Otterloo, coordenador do Fundo Dema, destacou a experiência bem-sucedida com o Fundo Amazônia em três Chamadas Públicas anteriores, as quais envolveram 112 associações e 417 comunidades. “O nosso compromisso com os projetos, na parceria com o Fundo Amazônia, é fortalecer e apoiar as organizações dos povos da floresta, a defesa dos seus direitos e mostrar que são atores da sustentação do bioma”, afirmou.
Plantando Resistência
Ao fim do encontro, os participantes plantaram dezenas de mudas de mogno ao redor do Centro de Formação Emaús, em ato simbólico que reforça a campanha de reflorestamento da Amazônia, articulada pelo Comitê Gestor do Fundo Dema nas regiões em que atua. A campanha teve início nas comemorações de 15 anos do Fundo e permanecerá até alcançar o plantio mínimo de seis mil mudas desta espécie florestal nativa da Amazônia.
[1] Comunicadora do Fundo Dema.
[2] Mutirão.
[3]