03/06/2015 10:27

A pergunta no título desse editorial poderia ser respondida de diversas maneiras e por centenas de movimentos, associações, sindicatos e grupos rurais e urbanos nos territórios em que a FASE atua. Entidades essas que pensam e agem junto com a gente por uma sociedade justa e solidária. Mas, no momento de lançamento de nossa campanha em prol de mais autonomia financeira, escolhemos como nossas porta-vozes agricultoras familiares. Tanto as mulheres da Casa Familiar Rural de Belterra, no Pará, como as do grupo As Extrativistas do Cerrado, no Mato Grosso, constroem a agroecologia com apoio da FASE. Em seus depoimentos, demonstram que apoiar suas iniciativas também significa apoiar a luta por uma alimentação adequada e saudável para todas e todos.

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Mulheres do grupo “As Extrativistas do Cerrado”. (Foto: Arquivo FASE)

Essas mulheres cultivam alimentos sem agrotóxicos, gerando renda e favorecendo a diversidade alimentar brasileira. Esses cultivos não contaminam as águas e os solos. Ou seja, cuidam de bens comuns centrais para a vida. O trabalho de educação popular da FASE junto a essas mulheres possibilita a troca de conhecimentos e o fortalecimento de sua organização social, inclusive com a presença delas em espaços de participação e controle social e de luta pela igualdade entre os gêneros.

A construção de alternativas ao atual modelo de desenvolvimento, ilustradas nessa campanha pelas histórias de vida de mulheres agricultoras, aprofunda o sistema democrático brasileiro e cria terra fértil para possíveis mudanças estruturais no país. Por exemplo, a FASE trabalha para que a agricultura familiar encampe, cada vez mais, as práticas agroecológicas e também conquiste mais terras, defendendo a tão necessária reforma agrária. Essa ação está na contramão da lógica do agronegócio, que lesa a sociedade com venenos e doenças.

Mas conquistas da sociedade civil vêm sendo ameaçadas por uma conjuntura hostil, como apontam documentos da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong). A partir dos anos 1990, com o domínio de políticas neoliberais, as ONGs passaram a ser cada vez mais vistas como canais de execução da área social do Estado. Essa visão resultou, muitas vezes, em relações ambíguas e até mesmo corruptas com o dinheiro público, o que criou uma descrença em relação à capacidade de uma esfera pública ampliada. A FASE acredita que é preciso diferenciar o “público” do “estatal”, sendo que uma de nossas linhas de trabalho é o fortalecimento da participação social na construção de políticas públicas realmente públicas, ou seja, que reflitam as necessidades das populações do país.

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Comercialização dos alimentos em feiras agroecológicas. (Foto: Arquivo FASE)

Além disso, a maioria das organizações que integra a Abong teve, na sua origem, a cooperação internacional como pilar de sustentação. Nos anos 2000, principalmente após a crise econômica mundial de 2008, houve uma diminuição desses apoios. Essa realidade trouxe ainda mais dificuldades para mobilizar recursos para a sustentabilidade dessas entidades. A FASE não escapou desse cenário. Por isso, nos últimos anos, nos mobilizamos  por um marco regulatório adequado às organizações da sociedade civil, com o acesso autônomo, qualificado e transparente a recursos públicos.

Ao mesmo tempo, buscamos diversificar nossas bases de sustentação financeira. É nesse contexto que apresentamos a campanha “Por que apoiar a FASE?”.  Trata-se de um esforço pela continuidade de uma história de luta de 54 anos. Desde 1961, somos uma organização sem fins lucrativos comprometida com a universalização de direitos sociais, econômicos, culturais e ambientais.

Convidamos a todas e todos a fazer parte dessa trajetória de justiça e solidariedade. Ao colaborar com a FASE, ajudarão ações em seis territórios do país – Amazônia, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco e Rio de Janeiro – e fortalecerão a defesa do direito à cidade, da justiça ambiental, do direito das mulheres e a promoção da soberania alimentar. Além disso, vão contribuir para a preservação da identidade da FASE, para que continuemos levando a cabo trabalhos de educação popular, articulação política e mobilização pela transformação da sociedade.

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