17/11/2010 13:47
Muito se fala da proteção ao meio ambiente, mas nem sempre se associa isto à necessária consideração de que os agrupamentos humanos fazem parte do ambiente. O Cerrado brasileiro, por exemplo, é residência tradicional de milhares de comunidades que sempre o respeitaram. Mas é também um bioma em risco, diante do avanço desenfreado da agricultura empresarial devastadora. A necessidade de preservar este patrimônio não entra em conflito com a presença humana em si, e sim com um determinado modo de uso da terra dos recursos naturais. É para propor um outro modo de usar a terra, mais respeitoso e frutífero, que a Rede Cerrado promove nesta semana um seminário em Brasília chamado “Políticas Públicas e Mercados para Produtos Comunitários do Cerrado”.
A Rede Cerrado é formada por dezenas de entidades dos diversos estados que compõem este bioma brasileiro. A Fase Mato Grosso é participante, e juntamente com A Casa Verde, o Núcleo de Agroecologia do Cerrado, Central do Cerrado e Instituto Sociedade, População e Natureza está organizando este evento na capital federal. O objetivo da discussão é avaliar o contexto da agricultura não empresarial no Cerrado e perceber o que pode melhorar para que ela se fortaleça, ganhe corpo e possa representar um caminho de proteção tanto para o meio ambiente quanto para a qualidade de vida dos habitantes.
Daí que as políticas públicas de comercialização da produção agrícola seja um dos grandes temas. A produção comunitária, ao contrário da produção capitalista, não dispõe de grandes meios de acesso a mercados. E por sua própria opção política, quer atender os mercados mais locais, por meio de uma produção ecológica. Receber o apoio de políticas públicas é essencial e totalmente justificável, já que no final a agroecologia está prestando um serviço público ao cultuvar a terra para produzir alimentos saudáveis sem agredir a natureza. Assim, o debate da agroecologia no Cerrado hoje está vinculada especialmente a duas políticas públicas nacionais: o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Mas isso não significa que o mercado institucional seja o único escoadouro da produção agroecológica do Cerrado. Na verdade,o desenvolvimento de outros caminhos é determinante para que tanto os agricultores familiares que ali residem como, afinal, o próprio bioma, possam se fortalecer. O fortalecimento deste campo social e político do Cerrado tem fundamental importância, especialmente para quem vive lá, mas muito grande também para o país como um todo. Interessa a todos que o Cerrado possa ser poupado de queimadas como a que arrasou grandes partes de seu território neste ano. As práticas arcaicas do agronegócio foram e são responsáveis por este tipo de tragédia que, aos poucos, vai comprometendo as condições de vida. A todos nós interessa um Cerrado vivo e ecologicamente produtivo.