23/03/2007 15:15
Fausto Oliveira
Neste ano em que a FASE Mato Grosso comemora 20 anos de atividade, a participação no seminário sobre o trabalho com mulheres demonstrou bem como este longo tempo de cultivo trouxe resultados. Desde os anos de 1994 e 95, quando a equipe iniciou um trabalho de pesquisa sobre as relações de gênero na região do Vale do Guaporé, o tema das desigualdades de gênero vem sendo cada vez mais incorporado.
O estudo feito naqueles anos, que deu início ao trabalho com mulheres, chamava-se “Etnografia sobre as relações de gênero na agricultura familiar do Vale do Guaporé. Esta pesquisa demonstrou uma clara necessidade de iniciar ações para promover a igualdade de gênero. Os homens decidiam tudo sobre o trabalho na roça e sobre a vida familiar. Além disso, os trabalho realizados pelas mulheres eram considerados como “não trabalho”.
Mas também foi mostrado que as áreas da roça que ficavam sob os cuidados das mulheres tinham produção mais variada; e elas eram responsáveis pela manutenção das sementes. Daí se percebeu que a questão de gênero estava intimamente ligada a aspectos da segurança alimentar e nutricional. Então, um trabalho de capacitação em gênero começou a ser feito com as mulheres agricultoras mato-grossenses.
Com as oficinas sobre direitos das mulheres e elaboração de projetos, elas se organizaram em grupos produtivos e se associaram à Rede de Conservação de Sementes e ao Gias (Grupo de Intercâmbio em Agricultura Sustentável). O Grupo das Margaridas, por exemplo, é uma organização de mulheres que cultivam coco babaçu, vendem para a Pastoral da Saúde e conseguiram que o alimento que produzem fosse incluído na merenda escolar da região. O Grupo Dandara produz e vende farinha de mandioca; a Associação de Mulheres Agricultoras de Araras produzem castanha cumbaru e fazem uso de uma rádio comunitária para se articular ainda mais.
Um aspecto importante do trabalho da FASE Mato Grosso é que as mulheres aplicam conhecimentos agroecológicos, ou seja, fazem uma agricultura limpa e absolutamente em harmonia com o meio ambiente. Por isso, seus produtos são mais valorizados. O resultado dessas iniciativas é sentido no constante empoderamento das mulheres mato-grossenses. Hoje, muitas delas já se tornaram lideranças sociais de suas comunidades, o que antes era reservado aos homens.
Um dos maiores ganhos do empoderamento das mulheres é a biodiversidade. A agricultura familiar, quando é tocada por mulheres, é mais rica e variada. Isso se verifica na prática, e está por trás de sucessos como o fato de que um cadastro de sementes típicas da Amazônia já tem mais de 300 qualidades cadastradas, de nove estados. As agricultoras mato-grossenses têm contribuído para esse esforço de manutenção da vida diante da força homogeneizante do agronegócio. O próximo passo das mulheres é participar da Rede de Mulheres Empreendedoras da Amazônia.