25/10/2012 12:27

Por Fran Paula, técnica da FASE Mato Grosso

A palavra FESTA designa uma solenidade comemorativa destinada a pessoas ou fatos importantes. (Dicionário Aurélio)

E é assim que diversas comunidades tradicionais no Brasil e no mundo celebram os fatos importantes, com Festa. A tradição de cultuar os alimentos faz parte da cultura dos povos tradicionais, pois tem-se o entendimento das relações daqueles com o bem estar, a saúde do corpo e da alma, e a vida.

Em Mato Grosso, comunidades tradicionais realizam anualmente celebrações festivas como esse caráter: festa da banana, festa da mandioca, festa do queijo, da pamonha e festa das sementes crioulas. Tradições que resistem ao tempo, e passam de geração em geração, perpetuando a cultura daquele povo ou comunidade.

Uma importante e excelente iniciativa que ressalta a importância do alimento, na sobrevivência da humanidade, bem como a adoção de práticas de produção que sejam sustentáveis. A festa conta com o envolvimento de muitas famílias agricultoras que vivem na comunidade, jovens, crianças, adultos e idosos, juntos para festejar as sementes crioulas.

Mas o que é Semente Crioula?

Semente Crioula, sementes Tradicionais, Sementes de Litro ou Sementes da Paixão, seja qual o for nome, são aquelas sementes que há anos e anos são mantidas pelos agricultores/as, que na base da troca feita na comunidade ou em outras festas, vão aumentando a diversidade de plantas, mudas e sementes em suas roças. É uma semente sadia, sem uso de produtos químicos e principalmente venenos. Estas sementes desenvolvem uma forte resistência ao ataque de insetos e incidência de doenças, pois são adaptadas às condições locais de clima e solo da região quando produzidas em sistemas diversificados e adotando as práticas e princípios da Agroecologia.

Por ser na Baixada Cuiabana a região de Mato Grosso onde encontramos diversas comunidades tradicionais, temos maiores evidências destas práticas milenares do uso e existência das sementes crioulas. Na semana em que se comemorou em todo mundo o Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro), aconteceu a primeira edição da Festa das Sementes na Comunidade Lajinha de Cima no município de Nossa Senhora do Livramento. Apesar de a comunidade já praticar a armazenagem e uso das sementes crioulas há muitos anos, herança cultural dos povos desta região, neste dia 20 de outubro se concretizou o primeiro ano da festa.

Com o apoio da CPT – Comissão Pastoral da Terra, Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Nossa Senhora do Livramento, FASE –Solidariedade e Educação, Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) e Rede de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (RMERA), a festa foi promovida com o propósito de incentivar a conservação e preservação das sementes e da cultura do povo mato-grossense.

Foi realizada, durante a festa, uma Roda de Prosa sobre a importância das sementes crioulas para a agricultura familiar e a soberania e segurança alimentar da população em geral, a importância da Agricultura Familiar na alimentação do planeta, e também a necessidade de adoção de práticas saudáveis de produção de alimentos, sem o uso de transgênicos e agrotóxicos. E ainda a responsabilidade de cada um na preservação da biodiversidade. A atividade contou com um delicioso almoço, com pratos típicos da baixada cuiabana, alimentando o público com o sabor da terra, produzido, compartilhado e preparado pelo seu povo. No período da tarde contemplamos o som de uma afinada viola de cocho e as vozes marcadas dos nativos desta região. Quem foi que não se arriscou a entrar na roda da dança?

E o momento principal e mais bonito da festa foi o da benção que todos/as fizeram às sementes, em um ato de fortalecimento, de esperança em dias melhores, e de alegria pela dádiva ali colocada. Após a benção sobre as sementes, chegou um dos momentos mais esperados durante todo o dia, a troca de sementes, mudas e plantas que foram trazidas à festa. A partilha das sementes assume o papel central da festa, o da valorização das mesmas, e o de multiplicação da prática de cultuar, resgatar, cuidar, armazenar e cultivar as sementes crioulas que são patrimônios deste e de todos os povos a serviço da humanidade.

* Texto publicado originalmente no site do Grupo de Intercâmbio em Agricultura Sustentável